Poucos episódios de The Office são tão lembrados quanto “Stress Relief”, da quinta temporada. Dividido em duas partes e exibido logo após o Super Bowl XLIII, esse episódio não só consolidou o talento da série para unir o absurdo ao cotidiano, como também revelou bastidores fascinantes sobre como a televisão americana planeja seus grandes momentos.
O episódio foi ao ar em 1º de fevereiro de 2009, após quase 100 milhões de pessoas acompanharem o confronto entre Pittsburgh Steelers e Arizona Cardinals no Super Bowl (final do futebol americano). E para a NBC, essa não era apenas uma oportunidade de ouro: era uma chance estratégica de apresentar The Office a um público ainda maior do que o habitual.
Sabendo do tamanho da vitrine que teria, o showrunner Greg Daniels foi direto ao ponto: o episódio precisava ser “grande, maluco e inesquecível”. Era crucial que os primeiros minutos conquistassem a audiência do Super Bowl — muitos dos quais talvez estivessem assistindo à série pela primeira vez. Foi assim que nasceu o que muitos consideram o melhor cold open (abertura) da televisão: o simulado de incêndio orquestrado por Dwight Schrute.
O que acontece na cena de The Office?
Na cena, Dwight, inconformado com a falta de preparo de seus colegas em caso de emergência, decide fazer um treinamento prático. A palavra “prático”, no entanto, ganha contornos perigosos quando ele realmente inicia um incêndio na cozinha do escritório, tranca as saídas e observa o caos se instaurar.
O pânico coletivo que se segue — com Angela jogando seu gato pelo teto, Kevin arrombando a máquina de venda de snacks e Michael gritando sem controle — é tão absurdo quanto hilário. Mas o riso logo dá lugar a uma virada inesperada: Stanley tem um ataque cardíaco, encerrando o trecho inicial com um misto de comédia e choque.
O que muitos não sabiam, até a publicação do livro The Office: The Untold Story of the Greatest Sitcom of the 2000s, de Andy Green, era que essa cena foi escrita com precisão cirúrgica para capturar a atenção de quem estava apenas “zapeando” após o jogo. Segundo o roteirista Anthony Farrell, a intenção era fazer com que qualquer espectador, mesmo sem conhecer os personagens, ficasse intrigado o suficiente para assistir o episódio inteiro.
Curiosamente, o caminho até esse conceito genial teve seus tropeços. Inicialmente, Greg Daniels propôs uma trama baseada em um obscuro filme francês: Jim perderia Pam em um jogo de pôquer. Apesar da resistência velada da equipe de roteiristas — que o via quase como uma figura paterna —, a ideia chegou a ser parcialmente desenvolvida, até que o próprio Daniels percebeu que era melhor descartá-la. Foi então que a proposta do incêndio ganhou força e acabou se tornando a escolha definitiva.
No fim, Stress Relief não apenas cumpriu sua missão de impactar a audiência do Super Bowl, como também se consagrou como um exemplo brilhante de como a televisão pode aliar planejamento estratégico, talento criativo e execução impecável para produzir algo verdadeiramente memorável.
No Brasil, The Office está disponível na Netflix, Max e Prime Video.
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