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Saiba tudo sobre Dmitri Mendeleev, o pai da Tabela Periódica


Uma das visões mais aterradoras para estudantes de química de primeira viagem, a Tabela Periódica de Elementos não é apenas uma ferramenta, que usamos de vez em quando. Ela pode ser considerada como a espinha dorsal da química moderna, uma espécie de GPS que nos permite navegar com segurança dentro de um imenso mundo povoado por elementos estranhos.

Mas, embora todo laboratório de química no mundo tenha esse “menu de ingredientes do universo” pendurado na parede, pouca gente sabe que o seu criador foi o russo Dmitri Mendeleev. Sua genialidade não se resumiu a listar os elementos, mas em decodificar padrões (periódicos) fundamentais da natureza, revelando a arquitetura essencial da matéria em uma época em que nem se conhecia a estrutura do átomo.

A tabela que ele criou em 1869 é praticamente a mesma que usamos, inclusive com alguns elementos previstos por ele na época. A única diferença real é que a tabela de Mendeleev ordenou os elementos aumentando o peso atômico, enquanto a tabela atual é ordenada aumentando o número atômico. Esse conceito só foi descoberto em 1913, por Henry Moseley, seis anos após a morte de Mendeleev,

Tragédias periódicas: a infância e juventude de Mendeleev

Dmitri Mandeleev nasceu em Tobolsk, em 1834. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Nascido na Sibéria em 1834, Dmitri Mendeleev passou por diversas dificuldades e dramas familiares na Sibéria, em 1834. Caçula de 13 ou 14 filhos, sua família enfrentou extrema pobreza. Primeiramente, seu pai Ivan ficou cego e incapacitado de trabalhar, e sua mãe Maria reabriu a fábrica de vidro da família para sustentá-los. Porém, aos 13 anos, Dmitri perdeu o pai e em seguida a fábrica foi destruída por um incêndio.

Apesar das limitações financeiras, Maria reconheceu o potencial acadêmico do filho e priorizou sua educação. Viajou mais de dois mil quilômetros até Moscou, com Dmitri e dois irmãos, mas a universidade moscovita recusou Mendeleev por sua origem siberiana. A família foi então para São Petersburgo, onde ele ingressou no Instituto Pedagógico Principal, mas logo enfrentou mais duas tragédias: Maria e a irmã morreram de tuberculose, e ele também ficou doente.

Em 1855, aos 21 anos, Mendeleev foi para a Crimeia (atual Ucrânia), na expectativa de recuperar sua saúde em um clima mais quente. Lá, ele se tornou professor na Escola de Simferopol, mas, uma semana depois, a Guerra da Crimeia começou, e a escola fechou. Transferido para Odessa, o químico voltou para São Petersburgo, onde, finalmente, dedicou dois anos à sua pesquisa de doutorado sobre interações entre álcoois e água

O descobrimento da tabela periódica dos elementos

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Na tabela de Mendeleev, as propriedades dos elementos estão em dependência periódica de seus pesos atômicos. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Em 1869, já como professor de química geral na universidade, Mendeleev preparava seu segundo livro didático. “Então comecei a procurar e anotar os elementos com seus pesos atômicos e propriedades típicas, elementos análogos e pesos atômicos semelhantes em cartões separados, e isso logo me convenceu de que as propriedades dos elementos estão em dependência periódica de seus pesos atômicos”, afirma ele em seus Princípios de Química.

Inspirado no jogo de paciência, Mendeleev organizou os elementos em colunas e fileiras, como em uma planilha moderna. Ordenou-os por massa atômica, reiniciando colunas para agrupar elementos com propriedades similares nas linhas horizontais. Embora grupos como metais alcalinos e halogênios se alinhassem perfeitamente, outros, como os lantanídeos (terras raras) não se encaixavam no modelo.

Para resolver essas incoerências, Mendeleev ajustou os pesos atômicos. Redefiniu algumas fórmulas, como a do óxido de berílio, que teve sua massa reduzida para ser colocado junto com o magnésio, e não com o alumínio. Com isso, acabou criando uma abordagem inovadora, priorizando as propriedades químicas, em vez de apenas dados experimentais, o que permitiu até mesmo antecipar descobertas futuras.

Integrando ciência, inovações e vida prática

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Além da tabela periódica, Mendeleev dedicou sua pesquisa a aplicações industriais e agrícolas. (Fonte: Royal Society of Chemistry/Divulgação)

Mendeleev não se limitou à tabela periódicae dedicou sua pesquisa a aplicações industriais e agrícolas. Foi o primeiro a propor oleodutos para transporte de combustível, construiu a primeira refinaria russa e testou fertilizantes em sua própria fazenda. Viajou de trem (na terceira classe) para disseminar ciência a camponeses, oferecendo conselhos práticos, como técnicas de adubação, mostrando seu compromisso em unir ciência e soluções práticas.

Fascinado pelo Ártico, o pesquisador projetou o quebra-gelo Yermak, e escreveu 40 artigos sobre navegação. Desenvolveu uma pólvora sem fumaça para a Marinha Russa e, em 1887, subiu sozinho, sem nenhuma experiência prévia, em um balão. Sua coragem, expertise e resiliência impulsionaram avanços inimagináveis em diversos campos: introduziu o sistema métrico na Rússia, estudou gases críticos e soluções químicas.

Viajante, fotógrafo e colecionador apaixonado, Mendeleev acabou criando uma solução pessoal para ajudá-lo em suas constantes viagens: tornou-se um fabricante de malas. Ele montava suas peças de viagem, que eram únicas e feitas com uma cola especial que ele próprio descobriu enquanto pesquisava substâncias adesivas.

Sentindo-se ameaçado pela física atômica

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O elemento químico radioativo mendelévio é uma homenagem a Mendeleev. (Fonte: Getty Images)

Como acontece a muitos cientistas, que são revolucionários em suas áreas de descoberta, mas conservadores ou céticos quando novas ideias “ameaçam” suas teorias, Mendeleev revolucionou a química com sua tabela periódica, mas mostrou-se resistente a novos conceitos como eletrólitos, elétrons e radioatividade. Formado em um paradigma anterior à física moderna, era difícil para ele conceber que átomos podiam ser divididos e transformados.

Por uma ironia do destino, o elemento número 101, que recebeu o nome de mendelévio em sua homenagem, é altamente radioativo. É um elemento transurânico, pois fica além do urânio na tabela periódica, e não ocorre naturalmente na Terra. É um actinídeo, de meia-vida muito curta, criado em 1955 por cientistas liderados por Albert Ghiorso na Universidade da Califórnia, Berkeley. O mendelévio é o resultado do bombardeamento do einstênio.

Mendeleev morreu de gripe em 1907, pouco antes de completar 73 anos. Foi enterrado perto de sua mãe, no cemitério Volkova, em São Petersburgo. Como homenagem ao seu legado científico, teve um funeral com honras de Estado, no qual os alunos carregaram uma tabela periódica. Suas últimas palavras, ditas ao médico, foram: “Doutor, você tem ciência, eu tenho fé”, uma possível citação do escritor de ficção científica Júlio Verne.

Ficou fascinado com a mente por trás da tabela periódica? Compartilhe a história de Mendeleev com seus amigos e seguidores nas redes sociais. Para saber mais sobre esse assunto, leia: Existe um limite para os elementos da Tabela Periódica?



Tecmundo

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