A Remedy Entertainment, embora não tenha um aporte equivalente ao de uma Rockstar Games ou até mesmo da Naughty Dog, tem seu espaço de importância na indústria dos games. Autora de franquias veneradas pelo público, como Max Payne e Alan Wake, a empresa tem no catálogo jogos com foco principal em campanhas single-player e narrativas envolventes. Chegou, inclusive, a criar um universo próprio entre seus títulos, o chamado “Remedyverse”.
Um deles, inclusive, está prestes a sair: FBC: Firebreak. Funcionando quase como uma subtrama de Control, em FBC você faz parte de uma equipe de funcionários voluntários que precisa limpar toda a bagunça deixada pelo Departamento Federal de Controle na Casa Mais Antiga, seis anos após os eventos paranaturais de 2019. Diferente dos jogos clássicos da empresa, FBC é um first-person shooter cooperativo que, embora tenha um universo rico por trás, ainda carece de um bom polimento.
A convite da Remedy, o Voxel viajou até Helsinque, na Finlândia, para testar FBC: Firebreak e entender um pouco mais sobre sua proposta ambiciosa, seu modo multiplayer e como o game se encaixa no universo de Control.
Multiplayer de tiro da Remedy
Pioneira em criar boas histórias, essa não é a primeira vez que a Remedy entra no mundo dos jogos de tiro em primeira pessoa. CrossfireX veio antes — um game que causou certa dor de cabeça para a desenvolvedora há alguns anos. Recheado de bugs e com um modo campanha decepcionante, o jogo recebeu nota média 38, sendo considerado um dos piores de 2022. Porém, essa pedra no sapato não impediu que a Remedy, já com um universo próprio estabelecido, tentasse novamente com um jogo no mesmo estilo, mas com uma proposta diferente.
A principal diferença é que FBC é um multiplayer cooperativo online — o primeiro da casa com essa proposta. Nele, você e mais dois jogadores precisam aceitar missões (chamadas de Jobs), cada uma com suas particularidades e objetivos. Para isso, cada jogador escolhe um Kit de Crise, com equipamentos exclusivos que são determinantes ao longo da missão.
Por exemplo, meu Kit de Crise foi o Fix Kit. Equipado com uma gigante chave inglesa, era possível consertar itens quebrados que beneficiavam a equipe — além de usá-la como arma. Se preferir algo mais agressivo, pode escolher o Jump Kit, cujo item principal é um Impactador de Carga Eletrocinética. Ele paralisa inimigos com descargas elétricas, ativa máquinas desligadas e ainda permite pular longas distâncias.
Já o Splash Kit tem como destaque o Ejetor Fluídico Operado a Manivela — uma minigun que espalha água. Ela serve tanto para apagar incêndios quanto para curar a equipe.
Além de uma arma e um tipo de granada equipada, cada jogador possui um item de auxílio e outro de aprimoramento, que oferecem vantagens no gameplay. Eles podem ser trocados conforme você acumula pontos na missão. De caixas de som elétricas que distraem inimigos até torretas de alto impacto, todos os itens são válidos para completar os objetivos. Mas são os aprimoramentos que adicionam charme ao combate.
Se você pudesse escolher entre um gnomo de jardim que causa tempestades paranormais, um bule fervendo que faz sua arma disparar lava ou um cofre de porquinho que te dá superforça… qual escolheria?
Durante os testes, jogamos três Jobs diferentes: Hot Fix, Paper Chase e Ground Control. Após o lançamento, outros dois serão adicionados sem custo adicional. Por ora, só esses estavam disponíveis.
Vamos começar pelo mais “simples”: Hot Fix. Os ventiladores da Casa Mais Antiga quebraram, e você e outros dois jogadores precisam consertar as turbinas enquanto criaturas atacam. Um trabalho simples, mas nada fácil.
Já em Paper Chase, é preciso eliminar (literalmente) diversos post-its espalhados pelos escritórios do Departamento. Parte deles transformou funcionários em zumbis feitos de… post-it. Se muitos grudarem em você, é o seu fim.
Por fim, Ground Control, no qual você deve coletar rochas radioativas gigantes, guardá-las em um carrinho e evitar morrer de radiação — junto com sua equipe e, talvez, o restante do Departamento.
Embora o jogo tenha uma proposta divertida para co-op, FBC: Firebreak escorrega em alguns pontos que, se bem trabalhados, podem fazer com que ele viralize e renda bons frutos para a Remedy.
Conforme a dificuldade aumenta, mais áreas da fase são liberadas, elevando o desafio. Os chamados Itens Corruptos — objetos que podem dar mais poder aos inimigos — deixam tudo mais interessante. Os diálogos cínicos de Hank Flowers (o chefe da operação) arrancam boas risadas. Ele exige tarefas absurdas dos funcionários sem nem aparecer no jogo, já que está isolado em um bunker.
Divertido, mas complicado
Fomos avisados de que a versão testada não era final e que alguns bugs poderiam surgir. No entanto, certos aspectos já indicam que FBC pode se tornar repetitivo com o tempo.
Um exemplo são os inimigos: após cumprir parte do objetivo principal, uma horda de seres extradimensionais aparece. No entanto, todos agem da mesma forma — alguns batem, outros atiram ou soltam poderes. A falta de diversidade fica evidente. Além disso, alguns itens especiais não causam o efeito esperado. No fim, a solução é sempre atirar até os inimigos caírem ou sumirem.
Durante a entrevista, Teemu Huhtiniemi, level designer do jogo, nos contou que Left 4 Dead foi uma das inspirações. Porém, no jogo da Valve, bastava ver um inimigo específico para saber que a situação ia complicar — como os Boomers ou a temida Witch. Em duas horas e meia de FBC: Firebreak, apenas um inimigo me chamou atenção: o Sticky Ricky, um chefão gigante feito de post-its. Não foi pelo desafio, mas pelo visual e o nome divertido.
Apesar dos diferentes objetivos de cada fase, uma maior variedade de inimigos faria bem ao jogo.
O caos cooperativo de Overcooked também foi uma inspiração para FBC. No entanto, a “obrigação” de se ajudar acaba prejudicada pelo excesso de inimigos em tela, o que leva os jogadores a quererem terminar logo pela exaustão. Jogos como Lethal Company e Phasmophobia funcionam bem justamente por equilibrar caos, cooperação e terror na medida certa.
Se FBC seguir mais por esse caminho, em vez de apenas “apontar e atirar”, pode funcionar melhor para quem for jogar. Não à toa, minha fase favorita foi Ground Control, onde os jogadores precisam se dividir para realizar uma tarefa simples: jogar pedras radioativas num carrinho. No meio disso, ainda é necessário se descontaminar enquanto monstros aparecem. O universo de terror de Control é perfeito demais para ser usado apenas como cenário de um jogo de tiro.
Vale a pena?
Afinal, FBC é ruim? Não, longe disso. É o clássico caso de um diamante ainda sendo lapidado. O game é divertido, mas será um daqueles que melhorarão com o tempo, se a companhia fizer tudo certinho.
Tem boas chances de crescer em vendas se cair no gosto dos jogadores. A Remedy fez uma aposta ambiciosa: você pode comprar o game base (US$ 39,99 — cerca de R$ 225,00 na conversão direta) ou jogá-lo via serviços de assinatura, como o Game Pass ou PS Plus, já que ele estará disponível no lançamento.
FBC é o clássico caso de um diamante ainda sendo lapidado.
Em um mar de jogos multiplayer, todo mundo quer sua fatia do mercado. Alguns navegaram bem, como Helldivers 2 e seu patriotismo exagerado. Outros afundaram antes mesmo de alcançar terra firme (Concord, não esquecemos de você). O importante é se destacar — e FBC: Firebreak tem potencial para isso.
Com mais pessoas jogando, será mais fácil para a Remedy entender seus erros e acertos logo nos primeiros dias. Mas o tempo é curto. Torço para que o jogo caia nas graças do público, pois se tem algo que essa empresa finlandesa sabe fazer, é criar experiências inesquecíveis.
FBC Firebreak chega no dia 17 de junho ao PC, PS5 e Xbox Series S e X. O jogo estreia diretamente na PS Plus e Xbox Game Pass.
Redirecionando…