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Que fim levou a Gradiente, antiga referência em aparelhos de som no Brasil?


Quem viveu no Brasil na década de 1980 em diante provavelmente se deparou com produtos da fabricante Gradiente na própria casa, na residência de outras pessoas ou nas lojas. A marca foi uma das mais importantes do mercado nacional de eletrônicos, em especial no segmento de áudio e games.

Porém, esse nome nos últimos anos não aparece mais entre os lançamentos de produtos. Na verdade, depois de enfrentar uma grave crise que incluiu uma recuperação judicial de anos, hoje a marca tem uma atuação bem diferente. Mas por onde anda essa companhia tão marcante? Descubra na reportagem e retrospectiva abaixo preparada pelo TecMundo.

O início da Gradiente

A trajetória da Gradiente começa oficialmente em 1930, quando o empresário Emile Staub abre uma empresa de representação comercial. Décadas depois, em 1964, a Gradiente nasce sob outros fundadores como uma fabricante e vendedora de eletrônicos, em especial aparelhos de som.

A família Staub adquiriu a Gradiente anos depois e Eugênio Staub, filho de Emile, assume a presidência do grupo — cargo que ocuparia por várias décadas. É a partir deste ponto — e aproveitando momentos como a reserva nacional do mercado de informática e outros setores de eletrônicos que favoreceram empresas locais — que a companhia se estabelece como um nome forte no Brasil.

Um antigo anúncio de revista da marca. (Imagem: Reprodução/Portal Memória Brasileira)

Ao longo dos anos, a Gradiente virou referência em produtos de áudio, como amplificadores e receptores, além de aparelhos do tipo “system”. Esses modelos eram compostos de duas caixas de som, toca-discos, toca-fitas e receptor de rádio, depois ganhando variantes mais compactas do tipo “mini-system” e “micro-system”. Ela ainda lançou telefones, videocassetes, televisores e tocadores de fita cassete, entre outros produtos.

A companhia ainda fez aquisições pontuais que aumentaram o catálogo e as tecnologias da marca, como a da britânica Garrard (1978) para tentar entrar no mercado internacional, em uma operação que não deu certo, além da Polyvox de equipamentos sonoros (em 1979) e da Telefunken, pioneira em rádios e TVs (em 1989).

A importância da Gradiente no mercado nacional

Para além do alto volume de vendas até o começo dos anos 2000, a Gradiente se destacou no país ao longo das décadas por lançar vários itens até então inéditos no mercado brasileiro, como os seguintes produtos:

  • o primeiro telefone no padrão nacional (em 1979);
  • o primeiro CD player (de 1989);
  • a primeira televisão de tela grande ou acima de 29 polegadas (em 1990);
  • o primeiro celular analógico fabricado por aqui (em 1993);
  • o primeiro DVD player do país (de 1998).

Mais tarde, ela também apostou em celulares mais avançados, mp3 players, reprodutores de Blu-Ray e HDTVs, além de monitores. Na década de 1980, ela já era uma das maiores do país em eletroeletrônicos.

A Gradiente possui também uma enorme importância para a história dos games no mercado nacional. Ela foi a responsável por, em 1983, lançar a partir da Polyvox o console Atari 2600 de forma regularizada por aqui — o primeiro console doméstico oficial do Brasil.

Ela também lançou um clone do Nintendinho, o popular Phantom System, e por ironia do destino acabou se tornando também a primeira parceria da Nintendo em território nacional

O Phantom System, um “clone” do Nintendinho. (Imagem: Reprodução/Mercado Livre)

Em 1993 foi iniciada pela dupla a Playtronic, que por uma década representou a companhia japonesa por aqui. Além disso, a Graciente lançou o computador Expert XP-800, mais conhecido apenas como Expert, um dos dois modelos de MSX que foram comercializados no país.

A queda da Gradiente

O mercado nacional de eletrônicos, porém, foi mudando e se tornando cada vez mais populoso, o que significa menos espaço para várias companhias. Empresas brasileiras passaram a perder mercado para as multinacionais — e mesmo algumas dessas marcas mais estruturadas não conseguiam espaço na disputa em todos os segmentos de produtos.

Em 2005, uma ousada Gradiente adquiriu a Philco por R$ 60 milhões, mas vendeu a divisão dois anos depois por um terço do preço. Essa negociação foi considerada um dos piores passos dados pela marca, já que foi caro e não trouxe os resultados esperados.

Nesse ponto, ela já tinha outros problemas financeiros graves e paralisou as atividades por tempo indeterminado. Ela tentou uma recuperação judicial já nesse ano, mas não teve sucesso.

Em 2012, ela muda o nome do grupo para IGB Eletrônica e faz uma campanha baseada em nostalgia para tentar recuperar o público. Os produtos da linha Meu Primeiro Gradiente eram voltados para crianças e incluem o clássico gravador que leva esse nome, uma câmera digital e um tablet.

O relançamento do Meu Primeiro Gradiente como rádio e karaokê. (Imagem: Divulgação/Gradiente)

Afundada em dívidas em um valor que chegava a R$ 976 milhões, a Gradiente pediu recuperação judicial em 2018 e passou anos lidando com o processo e o risco de falência definitiva. Neste ponto, muita gente acreditou que ela não retornaria às atividades e declararia falência.

A Gradiente ainda existe?

Apesar de parecer que encararia um futuro parecido com outras empresas nacionais que prosperaram no mesmo período, como a rival CCE, a Gradiente ainda existe até hoje.

A Gradiente conseguiu sair da recuperação judicial de forma bem sucedida em 2023, após uma renegociação das dívidas e a venda de vários ativos e estruturas industriais. Porém, ela decidiu não retomar as atividades no mesmo ritmo de antes e até passou a focar em novos mercados.

Projetos da recente divisão de energia solar da empresa. (Imagem: Reprodução/Gradiente)

Atualmente, ela opera de maneira bem diferente do seu auge, atuando com as seguintes atividades:

  • o licenciamento de marca e o recebimento de royalties para quem quiser vender eletrônicos sob o nome Gradiente, como caixas de som de poucos anos atrás;
  • a Gradiente Solar, uma divisão de painéis solares fotovoltaicos criada pelo próprio Eugênio Staub;
  • com o aluguel de galpões industriais que antes abrigavam estruturas da própria fabricante na Zona Franca de Manaus;
  • no aguardo da resolução da disputa judicial contra a Apple pelos direitos do nome “iPhone” no Brasil, por enquanto com vitória para a marca estrangeira.

Só que os problemas envolvendo a administração ainda não acabaram: a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) multou em 2023 e 2024 a família Staub por possíveis irregularidades tributárias e falta de transparência.

Quer saber por onde anda a Semp Toshiba, outra fabricante clássica de eletrônicos no Brasil de décadas atrás? Confira esse especial preparado pelo TecMundo!
 



Tecmundo

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