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QCY Brasil: a marca de fones tem duas lojas oficiais no Brasil? Entenda a polêmica


Há algum tempo, quem pesquisa pelos termos “QCY Brasil” no Google se depara com duas lojas online diferentes: qcybrasil.com e qcy.com.br, sendo que ambas se apresentam como “oficiais”.

Esse fato levanta a dúvida: a QCY – marca chinesa de eletrônicos como fones de ouvido – possui duas lojas oficiais no Brasil ou alguma delas está se passando por oficial? O TecMundo investigou a história.

Pelo menos desde 2019, a qcy.com.br tem feito certo barulho na internet. Com anúncios bem produzidos no YouTube e nas redes sociais, a plataforma parece fazer sucesso com o público. A título de comparação, a qcy.com.br tem 347 mil seguidores no Instagram; 5,9 mil inscritos no YouTube e 14 mil curtidas no Facebook. 

Já a qcybrasil.com tem 54 mil seguidores no Instagram; 289 inscritos no YouTube e 1,5 mil curtidas no Facebook, mesmo atuando no mercado desde meados de 2020.

Ao pesquisar no Google sobe “Qcy Brasil”, duas lojas aparecem se dizendo as oficiais. (Imagem: Carlos Palmeira/TecMundo)

Vendo esses números, é natural imaginar que a qcy.com.br seja a representante oficial da QCY no Brasil, certo? É aí que você se engana. E o caminho para explicar tudo isso é um pouco complexo.

Pulga atrás da orelha

Após alguns atrasos, reclamações e muita falta de informação, o caso da qcy.com.br foi parar na imprensa. Em novembro de 2023, o Tecnoblog publicou uma reportagem sobre lojas que se passavam por representantes oficiais da QCY no Brasil. Um desses comércios eletrônicos era justamente a qcy.com.br.

Após essa primeira matéria divulgar que essa plataforma utilizava sem autorização a nomenclatura de loja oficial, uma outra reportagem do Tudo Celular divulgou que a empresa realizava vendas por meio do modelo dropshipping. Esse é um formato de negócio no qual a empresa não mantém um estoque próprio de produtos, apenas importa os itens sob demanda.

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O site qcy.com.br realiza a importação a partir do AliExpress. (Imagem: Getty Images)

No dropshipping, o comércio recebe um pedido de um consumidor no Brasil e realiza a importação do produto (geralmente da China). Ou seja, é basicamente uma empresa que atua como intermediária entre os brasileiros e os fornecedores chineses.

A modalidade é totalmente legal no país e funciona bem, principalmente para pequenos empreendedores que não têm capital ou espaço para manter um grande estoque. Contudo, como tudo na vida, comprar de lojas que trabalham com dropshipping pode ter seus problemas.

Aumento de reclamações

Além de utilizar indevidamente o título de representante oficial da QCY no Brasil, a qcy.com.br registrou um aumento expressivo no número de reclamações e na falta de transparência nos últimos dois anos. Para fins de clareza textual, a partir deste ponto, a matéria irá se referir à qcy.com.br como “QCY dropshipping”.

O debate sobre a situação da QCY dropshipping aumentou após um vídeo publicado por Leonardo Drummond. Ele é empresário e youtuber, dono do canal Mind the Headphone, especializado em fones de ouvido.

Entre vários tópicos, Drummond cita reclamações que recebeu de pessoas que enfrentaram atrasos nas entregas ou que simplesmente não conseguiram obter retorno da loja. Ele entrou na história porque publicou vídeos patrocinados e recomendou produtos.

Desde então, o número de reclamações explodiu. Em consulta ao Reclame Aqui, a QCY dropshipping registrou 2.031 reclamações em 2023 e 2.479 em 2024. Nos últimos seis meses, já foram 2.163 reclamações, o que indica que 2025 pode superar os dois anos anteriores.

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Nos últimos meses, a loja online resolveu 85,6% dos problemas; respondeu a 63,3% das reclamações e teve um tempo médio de resposta de 25 dias. A maioria das queixas envolveu produtos não recebidos e atrasos nas entregas. Ambos os problemas são relativamente comum em lojas que vendem via dropshipping, já que o produto é importado da China e pode parar na alfândega, por exemplo.

Ainda segundo o Reclame Aqui, a empresa é classificada com uma nota geral de 6,5/10, o que lhe confere a reputação “regular”.

Reviravolta

A situação da QCY dropshipping mudou um pouco em janeiro de 2025. Em uma reviravolta, após anos se apresentando como representante oficial da QCY chinesa, o comércio eletrônico foi oficialmente autorizado a vender produtos no país. A informação foi divulgada em março deste ano, em um vídeo no canal da QCY Brasil.

Em entrevista ao TecMundo, Tailís Redondo, gerente de marketing da QCY Brasil, explicou toda a situação. Além de reforçar que somente a QCY Brasil é a representante oficial da marca asiática no país, ela comentou que uma breve disputa está em andamento.

Primeiro, ela afirma que, embora esteja juridicamente respaldada para atuar vendendo fones, a QCY dropshipping apresenta problemas evidentes na forma como conduz o relacionamento com os clientes.

“A gente vê uma falta de suporte muito grande [ao cliente], principalmente lendo as reclamações no Reclame Aqui. E estamos sendo prejudicados com isso. Eles apagam as reclamações no Instagram deles e, então, as pessoas vêm reclamar na nossa página. E nós não apagamos, já que optamos por um perfil de orientação e explicamos que são duas lojas diferentes”, comenta.

A gerente de marketing também cita outros incômodos com a concorrente homônima. Segundo ela, o site da QCY dropshipping apresenta informações incorretas sobre os produtos, por exemplo.

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A QCY internacional lista a QCY Brasil como uma revendedora oficial. (Imagem: Carlos Palmeira/TecMundo)

“Nunca fomos coniventes com a forma como eles atuam e nunca estivemos satisfeitos com o serviço que prestam”, diz.

‘Não sabemos nem quem ele é’

Tailís argumenta que a QCY Brasil atua desde 2021 como representante oficial da marca chinesa. A empresa tem sede em São Paulo (SP), em um prédio comercial, e mantém estoque de produtos em Osasco (SP).

Mesmo sendo autorizada apenas para vender os produtos no Brasil, a QCY dropshipping continua afirmando em seu site que é “a única loja oficial da marca no país”.

Na página “Sobre nós”, a QCY dropshipping também exibe informações duvidosas. Entre elas, uma suposta chancela aos produtos com links para matérias claramente publicitárias em sites como Globo.com, Metrópoles e até o TecMundo. As matérias do TecMundo e do Metrópoles, porém, nem estão mais no ar.

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Com tantas situações que prejudicariam a imagem de qualquer negócio, a QCY Brasil tem tentado contato com a QCY dropshipping por vias extrajudiciais. Contudo, o comunicado nunca foi recebido pelo dono da “concorrente”.

“Assim que o oficial de justiça chega ao local, as pessoas dizem que o responsável [pela QCY dropshipping] se mudou. Atualmente, não sabemos nem quem ele é de fato”, afirma.

“Nós gostaríamos desse contato para que eles cumpram o Código de Defesa do Consumidor, avisem que os produtos vêm da China e que são autorizados a vender, mas não são a representante oficial”, acrescenta.

Mesmo com as tratativas fora dos tribunais, a gerente de marketing da QCY Brasil não descarta a possibilidade de levar o caso à Justiça.

“A gente estava se articulando internamente junto aos chineses para impedir que eles atuassem no Brasil, mas no começo deste ano tivemos essa reviravolta. Não é nossa intenção prejudicar, mas precisamos dessa colaboração. E dá a entender que existem pessoas sendo lesadas e, se isso for verdade, teremos que tomar uma atitude mais drástica”, finaliza.

Resumo da QCY Brasil x QCY Brasil

Já que a situação das duas QCY Brasil é complexa e envolve idas, vindas e reviravoltas, segue um resumo da história toda:

  • O site qcy.com.br não tem autorização para ser o representante oficial da marca QCY no Brasil;
  • O site qcy.com.br atua no país por meio do modelo dropshipping, ou seja, recebe os pedidos de fones de ouvido e, depois, importa os produtos da China através do AliExpress;
  • A QCY dropshipping foi autorizada pela QCY da China, no primeiro trimestre deste ano, a realizar vendas de produtos no Brasil utilizando a marca QCY. Antes disso, a loja passou anos vendendo produtos sem esse registro ou autorização;
  • O site qcybrasil.com (QCY Brasil) é o representante oficial da QCY no país desde abril de 2021. A loja está inclusive listada no site oficial da QCY global como uma revendora oficial;
  • A QCY Brasil vende produtos nos marketplaces (Amazon, Kabum, Magalu, Mercado Livre), tem estoque no Brasil, certifica os produtos na Anatel e oferece garantia de 12 meses;
  • Tanto a QCY dropshipping quanto a QCY Brasil são autorizadas a vender produtos no país, mas somente a QCY Brasil é a representante oficial da empresa chinesa;

Sugestões do Procon

O Procon possui uma cartilha com dicas para consumidores que compram online. Além disso, o documento traz obrigações que as lojas virtuais precisam cumprir.

Segundo a entidade de defesa do consumidor, antes de efetivar uma compra online, os clientes devem buscar referências da loja com amigos, familiares ou pela internet. Vale consultar tanto o Sindec (cadastro nacional de reclamações do Procon), sites como o Reclame Aqui e comentários nas redes sociais.

Em relação às lojas online, elas devem apresentar de forma clara e destacada, preferencialmente na página principal, as seguintes informações:

  • Razão social;
  • CNPJ ou CPF;
  • Endereço físico;
  • E-mail;
  • Telefone;
  • Outras formas de contato (WhatsApp, redes sociais).

Outro lado

O TecMundo entrou em contato com a QCY dropshipping e com a QCY global. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno de nenhuma das empresas. A matéria será atualizada caso as marcas decidam falar sobre a situação



Tecmundo

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