O primeiro episódio da sétima temporada de Black Mirror retorna com tudo que tornou a série um fenômeno cultural: tecnologia disruptiva, dilemas morais e uma dose amarga de realidade. Intitulado “Pessoas Comuns”, o capítulo estrelado por Chris O’Dowd, Rashida Jones e Tracee Ellis Ross apresenta uma história inquietante sobre amor, sacrifício e o preço — literalmente — de permanecer vivo em um mundo dominado por grandes corporações de tecnologia.
Na trama, acompanhamos Amanda, uma professora que sofre uma emergência médica e é submetida a um procedimento experimental para continuar viva. Seu marido, Mike, embarca numa jornada emocional e física para sustentar essa nova realidade, com assinaturas que ficam cada vez mais caras e mudam sem aviso prévio — parece até mesmo os planos da Netflix, não é mesmo?
O episódio funciona como uma crítica direta a tecnologias emergentes como implantes cerebrais, modelos de assinatura abusivos e à cultura de monetização da própria dignidade, em nome da sobrevivência. A seguir, destrinchamos os principais momentos da trama e explicamos o que realmente significa aquele final devastador — tudo recheado de spoilers, é claro.
O começo: um casal comum em uma realidade alterada
O episódio se inicia de forma intimista: Amanda e Mike são apresentados no seu terceiro aniversário de casamento. Ela é professora de biologia e aparece ensinando seus alunos do primário sobre um tema que ressoa com o universo de Black Mirror: as abelhas mecânicas, mostrando que estamos em um universo distópico e futurista. Já seu marido trabalha há uma década em uma metalúrgica, o que garante uma vida simples e serena para ambos.
Para celebrar a data especial, a dupla resolve ir para a Pousada Juniper, em um condado ao lado, e revelam o desejo de Amanda engravidar. No entanto, o casal enfrenta dificuldades nesse processo.
Para piorar a situação, Amanda sofre constantes dores de cabeça, o que chega ao ápice em uma de suas aulas: ela desmaia e vai parar no hospital, e Mike é chamado às pressas para o lugar.
Rivermind traz streaming de dados para o cérebro
No hospital, Amanda é diagnosticada com um tumor cerebral e os médicos dizem que há poucas chances de recuperação. É aí que entra a Rivermind, uma startup que oferece uma solução experimental: um implante cerebral que mantém Amanda viva por meio de dados transmitidos de servidores externos.
A consultora da empresa, Gaynor, explica que o procedimento é gratuito, mas o “streaming de cérebro” tem um custo mensal, funcionando como um serviço de celular. Qual o preço? Uma assinatura de 300 dólares para manter a paciente ativa. Apesar das dúvidas, Mike autoriza a cirurgia.
Amanda acorda e retoma suas atividades, mas sua rotina agora depende de sono prolongado para backups cerebrais e da manutenção da assinatura digital. No entanto, esse pormenor acaba se tornando um dos menores problemas do casal.
Black Mirror mostra “assinatura de cérebro”
Com o passar dos meses, a pressão financeira aumenta. Mike trabalha mais horas e Amanda passa a dormir ainda mais. Durante uma viagem para reviver o aniversário de casamento, ela perde a consciência ao sair da área de cobertura da Rivermind.

A empresa culpa uma atualização de antenas e oferece um novo plano, o Rivermind Plus, por 800 dólares a mais no plano atual. A dupla considera assinar o serviço para viajar, mas acaba deixando de lado por não ter dinheiro para encarar o “novo benefício”.
No entanto, a situação começa a deteriorar ainda mais. Amanda percebe que está recitando anúncios involuntariamente para seus alunos e até durante conversas pessoais. Eles descobrem que, para se livrar desses anúncios, é necessário fazer o upgrade.
O que é Dum Dummies?
Para arcar com os custos, Mike recorre ao Dum Dummies, uma plataforma onde usuários se submetem a desafios humilhantes em troca de dinheiro. Usando uma máscara, ele faz ações bizarras e dolorosas, como beber urina e prender uma ratoeira na língua, para conseguir dinheiro para fazer o upgrade de assinatura da esposa.

O esforço funciona: Amanda consegue acessar o plano sem anúncios e volta a viver normalmente, por um tempo. Mesmo com o Rivermind Plus, a situação dela continua piorando, com a empresa exigindo que ela durma cada vez mais para manutenção de servidores.
Rivermind Lux
Mesmo no plano premium, Amanda passa a dormir ainda mais após uma atualização de firmware, indo para 12 horas por noite. Ela também descobre que está no “modo sono”, e não dormindo de verdade: o cérebro dela está sendo utilizado para alimentar os servidores da Rivermind.
Na empresa, eles também descobrem que agora existe um novo plano da companhia: o Rivermind Lux. Usando dados de outros usuários, a assinatura aguça os sentidos de quem paga, além de liberar habilidades especiais como relaxamento ou melhora no desempenho em esportes, tudo controlado por um app.

E o preço? A assinatura completa custa US$ 1000 a mais, mas também é possível comprar “pacotes de dados” avulsos com melhorias que duram dias ou horas. Em segredo, Mike continua utilizando a plataforma Dum Dummies e se humilhando cada vez mais em busca de dinheiro para bancar lampejos de felicidade para sua amada.
Para ter novamente um aniversário de casamento na pousada Juniper e comprar um pacote “Lux” para a esposa, ele resolve ir além dos padrões na plataforma online e tirar a máscara na transmissão ao vivo, o que muda sua vida para sempre.
Mike é demitido
Após aproveitarem um fim de semana na pousada com Amanda usando “poderes especiais” da assinatura Lux, eles retornam para casa, mas a situação sai do controle. Mike perde o emprego após ser reconhecido no Dum Dummies pelo seu colega que o apresentou a plataforma.
Durante uma tentativa de conseguir crédito com a Rivermind para Amanda não voltar a recitar anúncios, o casal recebe outra péssima notícia. Caso Amanda engravide, o plano será ainda mais caro. Sem saída, eles abrem mão do sonho de ter um filho para continuar pagando o serviço.
Assim, vemos a dupla definhando com o passar do tempo para manter as assinaturas da Rivermind ativas. Enquanto Amanda fica cada vez mais sonolenta, Mike vai se tornando cada vez mais fraco e cansado por causa da plataforma Dum Dummies.
Por que Mike mata Amanda no final do episódio?
Nos últimos minutos do episódio, vemos Mike e Amanda em mais um aniversário de casamento. Ambos estão extremamente fracos e cansados, mas o marido compra 30 minutos da assinatura Rivermind Lux para sua amada ter um pouco mais de felicidade.
No aplicativo, Mike aumenta a serenidade da esposa para o máximo, e ela, num momento de plenitude, diz que gostaria de encerrar a própria vida. Amanda pede para Mike fazer isso “quando ela não estivesse ali”. Ou seja, a personagem aceita que a única forma de se ver livre da Rivermind é dando fim a sua existência.

Assim, o marido se despede da esposa antes do fim do plano Rivermind Lux, e quando Amanda começa a recitar um anúncio, deitada na cama, ele a sufoca com um travesseiro. Chorando pela perda de sua amada, Mike vai para o quarto com um estilete, onde vai trabalhar novamente na plataforma Dum Dummies.
Por fim, o desfecho de Mike e Amanda é um alerta sombrio: em um mundo onde tudo tem um preço, até o amor pode ser monetizado — e o descanso eterno, às vezes, é a única forma de se libertar.
O significado do final do episódio
O final do episódio mostra que Mike e Amanda finalmente conseguiram se livrar da Rivermind, mas as consequências do uso do produto da empresa podem nunca ser superadas pelo marido. Afinal, além de lidar com a morte da esposa, o marido ainda precisa trabalhar se humilhando, já que perdeu seu emprego anterior por causa da plataforma Dum Dummies.
As críticas do episódio podem ser direcionadas a vários serviços atuais, incluindo a própria Netflix, que frequentemente muda seus planos sem aviso prévio. Além disso, a plataforma Dum Dummies claramente é um reflexo de apps como o TikTok e a famosa trend dos NPCs.
O episódio também cutuca empresas como a Neuralink, de Elon Musk, que busca implantar chips em humanos para conectá-los com máquinas. Enquanto a companhia se apresenta com propostas interessantes, é difícil dizer, atualmente, se esse tipo de tecnologia não contará com termos escondidos no futuro, e se livrar deles não será nada fácil.
E aí, qual a sua opinião sobre o episódio Pessoas Comuns de Black Mirror temporada 7?
Redirecionando…
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