O Rio Grande do Norte registrou um aumento de 175,5% no número de internações no Sistema Único de Saúde (SUS) de 2015 a 2024 relacionadas a acidentes de trânsito, conforme pesquisa das Associações Brasileiras de Medicina do Tráfego (Abramet) e Medicina de Emergência (Abramede), com base em dados do Ministério da Saúde. De acordo com os dados, em 2015 foram 1.912 internações no sistema de assistência pública do RN, ao passo que, no ano passado, foram 5.269, totalizando 37.185 hospitalizações em 10 anos. Os gastos com esse tipo de internação somaram R$ 72,1 milhões no período, dos quais R$ 8,3 milhões somente em 2024.
Apesar do aumento das internações no ano passado, contudo, o Estado gastou menos do que em 2019, que apresentou o recorde de custos no período analisado (os custos foram de R$ 8,7 milhões), seguido por 2021 (R$ 8,5 milhões) e 2020 (R$ 8,4 milhões). Em 2015 o volume gasto foi de R$ 4,7 milhões. Em todo o País, o SUS contabilizou 1,8 milhão de internações por sinistros de trânsito, totalizando R$ 3,8 bilhões em despesas hospitalares diretas em 10 anos.
As maiores vítimas são homens jovens, com idades entre 20 e 29 anos, e motociclistas. De acordo com o cirurgião geral Ariano Oliveira, do setor de traumas do Hospital Walfredo Gurgel, o perfil de vítimas do RN segue o mesmo padrão. “Os processos de mobilidade atuais passaram a ser um problema, com uma vulnerabilidade em razão do transporte, especialmente, o de alimentos, feito por motocicleta. Por isso, na maioria das vezes, as motos estão envolvidas nesses dados de expansão de acidentes”, avalia o médico.
A análise é semelhante à feita pelo especialista em trânsito Emerson Melo. Para ele, no entanto, o problema vai além, uma vez que faltam capacitação e regularização de muitos dos condutores que atuam como motoentregadores, os quais, de acordo com o Código Brasileiro de Trânsito precisam de cursos especializados para atuação. “Mas isso praticamente não é exigido. Além disso, dados da própria Secretaria Nacional de Trânsito mostram que, no RN, mais de 50% dos condutores não têm habilitação ou essa habilitação não é adequada. Faltam qualificação e fiscalização”, aponta o especialista.
O médico Ariano Oliveira afirma que os altos índices de internação por acidentes no trânsito pressionam o sistema de saúde no RN, ainda concentrado no Walfredo Gurgel, oneram os custos do poder público e aumentam o risco de infecções hospitalares. “É preciso lembrar que no RN existe uma deficiência de leitos ortopédicos e de linha de cuidado para as cirurgias de trauma. Isso faz com que pacientes cheguem a ficar 20 ou 30 dias aguardando por uma cirurgia”, descreve o ortopedista.
Segundo ele, o tempo de internação de uma pessoa vítima de acidente de trânsito costuma passar de sete dias (tempo médio) para 15, fator que contribui para a superlotação do sistema. O médico explica que os traumas cranianos são os mais comuns em acidentes do tipo, mas não são os únicos. Fraturas de braços, pernas, mãos e pés também são recorrentes, além de traumas torácicos.
“O tratamento varia de acordo com cada linha de cuidado, mas consiste, sistematicamente, no suporte clínico (para respiração e circulação sanguínea) a fim de se evitar quadros infecciosos”, fala. Já os cuidados específicos, indica, vão depender do “segmento do corpo afetado” e podem envolver a chamada fixação óssea.
O levantamento da Abramet e da Abramede aponta que, em todo o Brasil, as vítimas que estavam em motocicletas no momento do acidente concentram mais de 60% de todos os casos de internação de 2015 a 2024. No ano passado, o número chegou a 150 mil hospitalizações, mais do que o total somado de pedestres e ciclistas no mesmo ano. Os pedestres formam o segundo maior grupo de vítimas atendidas nas emergências por acidentes de trânsito, com 16% dos casos no período.
Em seguida, aparecem os ciclistas e ocupantes de automóveis, ambos com 7% do total de sinistros registrados entre 2015 e 2024. Além disso, do total de internações no SUS nos últimos dez anos no País, 78% foram de pessoas do sexo masculino, enquanto apenas 22% envolveram mulheres. Em relação à faixa etária, o maior volume de hospitalização está entre os jovens de 20 a 29 anos, que totalizaram cerca de 28% de todas as internações. As associações não divulgaram os dados sobre o perfil das vítimas no RN.
Tribuna do Norte
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