Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Um hospital na China alcançou recentemente 97% de acerto nos diagnósticos clínicos e uma taxa de sucesso cirúrgico elevadíssima ao incorporar uma inteligência artificial desenvolvida exclusivamente para o campo médico. O dado impressiona, mas a reação mais comum ainda é o espanto.
Muitos associam esse avanço a uma possível substituição do profissional humano, criando um temor difuso que ignora a verdadeira natureza dessa tecnologia. O que assusta, de fato, não é a IA em si, mas a ignorância generalizada sobre o modo como ela opera.
Não se trata aqui da inteligência artificial genérica, disponível em buscadores ou aplicativos populares. Estamos a falar de sistemas treinados com profundidade, alimentados com bases de dados clínicos reais, artigos científicos validados, prontuários médicos anonimizados, protocolos hospitalares e históricos documentados de milhares de casos. É justamente essa especialização que garante o nível de precisão atingido.
O problema não é a presença da IA na prática clínica, mas a ausência de conhecimento técnico sobre seu funcionamento. O debate público ainda está pautado por impressões fantasiosas, alimentadas por narrativas ficcionais ou por uma resistência emocional ao novo.
O que precisa ser compreendido é que uma IA não elimina o papel do médico, mas o expande. Ela funciona como uma extensão da memória de longo prazo do profissional, oferecendo uma camada adicional de análise e apoio à tomada de decisão.
Recorrer a esse tipo de ferramenta não é um sinal de fraqueza ou insegurança. Não há vergonha alguma em um médico consultar uma IA personalizada para orientar um diagnóstico ou revisar condutas clínicas.
Pelo contrário: trata-se de uma atitude responsável, que reconhece os limites da cognição humana diante do volume exponencial de conhecimento científico gerado diariamente. A IA não esquece atualizações, não comete deslizes por fadiga e está disponível em tempo real para sugerir caminhos baseados em evidência.
O foco da discussão deveria estar em como garantir que essas ferramentas sejam treinadas com rigor, supervisionadas por comitês científicos, auditadas periodicamente e integradas de forma ética à rotina dos profissionais.
A resistência irracional à tecnologia só atrasa a evolução dos sistemas de saúde. O avanço real virá não da substituição, mas da colaboração entre a inteligência humana e os modelos computacionais especializados.
Essa revolução tecnológica não representa o início do fim dos médicos. Representa, sim, uma atualização de paradigma. A medicina caminha para um estágio em que o médico precisará assumir, com maturidade e preparo, aquilo que muitos ainda resistem em ser: cientista.
Nesse novo cenário, o profissional da saúde não apenas consulta a inteligência artificial, ele também a alimenta. Cada decisão clínica bem fundamentada, cada diagnóstico preciso, cada conduta validada por evidência se transforma em dado útil, que retroalimenta o sistema e contribui para uma inteligência médica cada vez mais refinada.
O médico torna-se parte de um ciclo virtuoso de aperfeiçoamento, onde seu conhecimento se converte em base para diagnósticos mais ágeis, tratamentos mais eficazes e estratégias terapêuticas mais ajustadas às singularidades de cada paciente.
Não se trata, portanto, de ceder lugar à máquina, mas de elevar a medicina a um patamar mais técnico, ético e precisionista. Com apoio das IAs especializadas, poderemos curar mais pessoas, reduzir erros evitáveis e operar com um grau de perfeccionismo que, até pouco tempo atrás, era apenas uma aspiração.
A medicina do futuro é uma ciência que exige humildade, cooperação e, acima de tudo, compromisso com a verdade, mesmo quando ela vem por vias digitais.
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Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Pós-PhD em Neurociências, é membro da Society for Neuroscience (EUA), Royal Society of Biology e Medicine (Reino Unido), entre outras. Mestre em Psicologia, licenciado em História e Biologia, tecnólogo em Antropologia e Filosofia. Autor de 300 estudos e 30 livros, membro de sociedades de alto QI como Mensa, Intertel, Triple Nine, IIS e ISI. Professor em PUCRS, UNIFRANZ e Santander, diretor do CPAH e criador do projeto GIP.
Redirecionando…
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