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Iluminando Atena: como luz e sombra criavam a atmosfera religiosa no Partenon


O Partenon, palavra que pode ser traduzida do grego antigo como “morada da virgem”, é talvez um dos templos mais conhecidos e visitados do mundo. Dedicado à deusa Atena, ele fica no coração de Atenas, no alto da Acrópole (cidade alta), uma colina rochosa com cerca de 150 metros acima do nível da cidade. 

Marco visual e expressão do poder e da identidade da Grécia entre 447 e 438 a.C., o monumento abrigava a monumental estátua criselefantina (de ouro e marfim) de Atena, esculpida por Fídias. Com 11,5 metros, ela ocupava a cela oriental, cercada por colunas dóricas. Um vaso com água à frente ajudava a conservar o marfim e refletia a luz natural.

Agora, uma pesquisa publicada recentemente no Anuário da Escola Britânica de Atenas propõe mostrar como a luz natural entrava no portal do Partenon em épocas específicas do ano, fazendo a estátua de Atena brilhar na escuridão ao redor. Para o autor do estudo, Dr. Juan de Lara, da Universidade de Oxford, o interior do templo era bastante escuro e sombrio, e não um “espaço de mármore brilhante”, como muitos acreditavam.

Reproduzindo a experiência luminosa original dentro do Partenon

Tentando explicar como os construtores do Partenon manipulavam a luz por meio da orientação solar, janelas, barreiras, grades, mármore translúcido e claraboias, o autor afirma que “eles estavam trabalhando com efeitos especiais, de certa forma”. O objetivo era “aprimorar a experiência dos visitantes do templo e seu encontro com a colossal estátua de ouro e marfim da deusa Atena”, diz o estudo.

Para recriar como a iluminação natural e artificial se combinavam na época, para produzir a imersão mística, de Lara testou o impacto produzido por cada uma das possíveis estratégias do projeto original. Com o apoio da University College London e da London Arts and Humanities Partnership, ele simulou em 3D a entrada da luz no templo, e como ela refletia em diferentes superfícies.

Em uma entrevista ao Cambridge Core Blog, o pesquisador explica que os materiais utilizados na construção, como mármore, ouro e marfim, foram propositalmente escolhidos por sua luminosidade inerente. Depois de polidos, eles proporcionavam uma “refletividade dinâmica” que faziam a estátua de Atena parecer emergir gradualmente, como “uma verdadeira visão epifânica”, explica de Lara.

Qual a importância da reconstituição dos efeitos de luz e sombra do Partenon?

O Parteon era um ambient escuro e místico, no qual a divindade emergia da penumbra. (Fonte: Juan de Lara/Divulgação)

Ao contrário da maioria das reconstruções visuais de edifícios antigos, que são normalmente usadas como material complementar e meramente ilustrativo para textos ou divulgação pública, o trabalho de Juan de Lara representa uma mudança de paradigma, pois transforma as reconstruções 3D em ferramentas científicas de análise arqueológica experimental

De Lara contesta as visualizações modernas do Parthenon como espaço racional e luminoso, reminiscentes do Iluminismo europeu e do século 18, quando se acreditava que templos gregos eram brancos e sem cor, afirma ele ao IFLScience. Sua pesquisa, ao contrário, revela ambientes escuros e místicos, nos quais a divindade emergia dramaticamente da penumbra.

Descrevendo o ponto de vista de um visitante deixando a luz solar e entrando no templo, o autor supõe a experiência: “À medida que a luz do sol é filtrada pela porta do templo, ela atinge o ouro das vestes das deusas com um feixe vertical luminoso. Este era o efeito que os arquitetos e Fídias pretendiam criar. Deve ter sido mágico!”, conclui.

O que você achou dessa capacidade milenar dos artistas em alterar espaços para criar auras de sacralidade? Compartilhe esta matéria com amigos que curtem manipulações de luz e sombra para criar cenários sombrios em filmes e games. Veja também como, além de iluminadas, as estátuas greco-romanas eram também perfumadas.



Tecmundo

Redirecionando…

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