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Diagnóstico precoce e tratamento de Endometriose pautam audiência na AL – Portal de Notícias Senadinho


O Parlamento Potiguar reuniu especialistas e autoridades estaduais e municipais, na tarde desta segunda-feira (16), para discutir “Perspectivas de tratamento para mulheres com Endometriose no RN”. A audiência pública foi proposta pela deputada Cristiane Dantas (SDD), com o objetivo de ampliar os conhecimentos sobre a doença e encontrar soluções para o diagnóstico precoce e tratamento adequado.

“Hoje eu volto a falar sobre um tema de extrema importância, que afeta a qualidade de vida e a saúde reprodutiva das mulheres: a Endometriose. Uma doença crônica e inflamatória, caracterizada pelo crescimento anormal do endométrio para fora do útero, que muitas vezes é subdiagnosticada. A falta de conhecimento sobre a enfermidade e a normalização da dor menstrual intensa contribuem para um atraso significativo no diagnóstico. Em média, leva-se de sete a dez anos para um parecer preciso”, iniciou a deputada.

Segundo Cristiane Dantas, para diagnosticar a Endometriose, alguns exames especializados são necessários.

“E aqui no Estado essa uma das maiores dificuldades enfrentadas pelas mulheres. Além disso, o acesso às cirurgias e a falta de acompanhamento multidisciplinar também são obstáculos. Isso é particularmente preocupante, considerando que a doença é uma das principais causas de infertilidade feminina”, alertou.

A parlamentar reforçou que há um ano foi feito o mesmo tipo de debate, que gerou duas reuniões com a ex-secretária de Saúde, Dra. Lyane Ramalho, mas não houve muito avanço nas ações estaduais.

“No âmbito parlamentar, para continuar dando voz à realidade enfrentada pelas mulheres com essa condição, demos entrada em dois projetos de lei simbólicos, que ainda tramitam na Assembleia. Um pretende instituir o Selo Amarelo da Luta Contra a Endometriose; o outro projeto institui o Dia Estadual de Enfrentamento à Endometriose, no dia 13 de março, além da Semana Estadual de Conscientização Sobre a Endometriose”, concluiu a deputada, acrescentando que insiste na força do diálogo e espera que os debates gerem ações concretas.

Em seguida, a palavra foi passada para a secretária adjunta de Saúde do Estado, Leidiane Queiroz, que participou através de videochamada.

Ela disse que está à disposição para esclarecer qualquer dúvida e falou sobre o trabalho que a pasta vem fazendo ao longo do último ano.

“Desde que entramos na secretaria, estamos buscando avançar nesta pauta tão importante. E no dia a dia a gente acaba conhecendo o sofrimento de muitas mulheres que passam por esta dor, que não fica bem esclarecida, então é preciso que a gente una esforços para alcançar um resultado ainda melhor. São muitos os desafios, que vêm desde o Ministério da Saúde, em termos de reconhecimento e regulação, mas temos feito articulações para que avancemos no RN e em todo o País”, afirmou.

Na sequência, a coordenadora de Atenção à Saúde do RN, Renata Nascimento, apresentou os avanços e conquistas da mesma secretaria, do período de um ano para cá.

“Nós estamos em discussão com os diversos atores envolvidos, buscando superar os desafios no cuidado à mulher com Endometriose”, garantiu.

Ela explicou que a doença é um crescimento do tecido endometrial fora do útero, de forma desproporcional, levando a sintomas de dor pélvica crônica, infertilidade, alterações intestinais e urinárias, dentre outros. Em seguida, divulgou dados estatísticos sobre a enfermidade.

“O tempo médio de diagnóstico, infelizmente, é de 7 a 10 anos. Nós tivemos mais de 57 mil casos no Brasil, entre 2019 e 2023. Foram 14.855 internações aqui no Nordeste, e o RN está entre os estados com mais registros”, informou.

Segundo Renata Nascimento, dentre os grandes problemas envolvendo a doença estão a subnotificação e o subdiagnóstico. “A gente sabe que muitas mulheres não conseguem ter acesso aos exames necessários para receberem o diagnóstico e, quando conseguem, após muito tempo, já estão com o seu sofrimento prolongado”, detalhou.

A coordenadora acrescentou que o Rio Grande do Norte realiza atendimentos nos laboratórios de atenção especializada da Maternidade Januário Cicco, sendo 40 por mês; e em Mossoró, no Hospital da Mulher, também com 40 atendimentos mensais.

“Tudo isso para atender uma fila – subnotificada – de 119 pacientes na espera do atendimento ambulatorial e de 58 para atendimento cirúrgico da Endometriose”, complementou.

A respeito das ações realizadas pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap-RN) como um todo, a representante do órgão ressaltou que a equipe tem participado ativamente de audiências públicas, reuniões em que haja discussão sobre a Linha de Cuidado à enfermidade e tem dado apoio a projetos de lei que garantam diagnóstico precoce e tratamento integral.

“Só para destacar alguns dados, de março a dezembro de 2024, foram feitas 20 cirurgias aqui no RN; e de janeiro a 9 de junho de 2025 nós realizamos 42. Atualmente, temos 63 pacientes aptas para a cirurgia, com procedimentos agendados até 22 de dezembro deste ano”, informou.

A representante da Sesap-RN frisou ainda que os principais desafios do Estado são a regionalização (garantir que as pacientes sejam atendidas em suas regiões de Saúde); o acesso ao diagnóstico precoce; a construção da Linha de Cuidado; a Judicialização das cirurgias; e a carência de especialistas.

“E, para finalizar, como propostas de soluções, a nossa secretaria pretende fortalecer os ambulatórios no interior; implementar a linha de cuidado estadual; capacitar a Atenção Básica; realizar campanhas educativas; fortalecer o fluxo de regulações e dados epidemiológicos; e contribuir com os avanços nas regulamentações nacionais para fornecimento de medicamentos e procedimentos”, concluiu Renata Nascimento.

De acordo com a diretora técnica da Maternidade Escola Januário Cicco (MJEC), Dra. Maria da Guia, “nós gritamos por uma assistência obstétrica no RN. Enquanto temos 63 mulheres para fazer cirurgia de Endometriose, nós temos 1300 mulheres no ‘Regula Cirurgia’ só para fazer Histerectomia Abdominal. Fora a Obstetrícia, a mulher que precisa de cirurgia ginecológica também está gritando. Mulheres que têm tomado 10 concentrados de sangue, por conta de Miomatose Uterina, buscam a nossa maternidade quase todos os dias para atendimento. E aqui em Natal só se opera na Januário Cicco, no Hospital da Polícia e no Hospital Santa Catarina. Então, isso quer dizer que nós, mulheres, estamos à beira do colapso da nossa saúde ginecológica”, alertou, informando, na sequência, que “da última audiência para cá, a Januário Cicco abriu mais um ambulatório para atender Endometriose”.

Continuando os discursos, a médica Sônia Barreto, chefe da Divisão Médica da MJEC, a maternidade e o Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) estão preparados para realizar as cirurgias de Endometriose, mas estão aguardando os recursos do Estado.

“Nós estamos preparados, juntamente com o HUOL, para fazer essas cirurgias. Mas o acertado foi que a secretaria iria fornecer os recursos para os materiais, que custam em torno de R$ 20 mil, por cirurgia. Nós já temos um Ambulatório de Infertilidade, que é o único do Norte-Nordeste, e é a própria maternidade que arca com toda a despesa. Por isso não conseguimos mais custear nada. Mas o Estado informou que já está em processo de licitação, e tão logo isso se resolva, nós teremos condição de juntar os nossos profissionais com os do HUOL, para dar assistência a essas mulheres que precisam ser atendidas”, enfatizou.

Já a ginecologista e especialista em Endometriose, Dra. Gleisse Aguiar, apresentou um panorama do que é vivenciado pelas mulheres portadoras de Endometriose até chegarem ao atendimento especializado.

“No início dos sintomas, a mulher sente dores no período menstrual, mas elas podem se tornar crônicas e incapacitantes. Muitas pacientes têm dificuldade para engravidar. Outras já possuem sintomas psicológicos, porque se queixam, mas não são ouvidas pelo profissional de saúde. Nesse atendimento, o generalista ou ginecologista pede uma ultra convencional, que não detecta a Endometriose. Assim, os diagnósticos equivocados são expostos. Quando, finalmente, algum profissional mais experiente decide pedir uma ressonância ou ultra com preparo intestinal, as pacientes esbarram no acesso a esses exames. Depois de muita luta, quando elas fazem o exame e são diagnosticadas, o profissional as encaminha para a MJEC. E a gente vê que as pacientes vêm a partir do RN inteiro. E sempre com a mesma história: de 7 a 10 anos se queixando, buscando ajuda e, quando recebem o diagnóstico, vêm até nós”, detalhou a médica.

A ginecologista explicou que quando a Endometriose é exclusivamente ginecológica, a cirurgia é feita na própria maternidade.
“Porém, quando é uma enfermidade multicompartimental, ou seja, envolvendo outros órgãos, como bexiga e intestinos, infelizmente nós não conseguimos realizar a operação, por falta de uma equipe multidisciplinar”, disse.

A especialista afirmou que “quando há necessidade de cirurgia de alta complexidade, a paciente é encaminhada para a Defensoria Pública.

“E nós temos observado que parte dessas mulheres é enviada para o Hospital de Currais Novos, que possui os materiais adequados, mas não tem a equipe multidisciplinar. Além disso, não há um código específico para essa cirurgia, então nós não sabemos o que realmente foi feito na paciente, e ela também não recebe um cuidado pós-cirúrgico adequado”, apontou a profissional.

Por isso, de acordo com a Dra. Gleisse Aguiar, “a solução que nós encontramos é a linha de cuidado integrada, com um fluxograma claro e eficiente, que integre todos os níveis de atenção à saúde (primaria, secundaria e terciaria), a fim de garantir um cuidado contínuo e integrado a essas mulheres. Além disso, é preciso realizar a capacitação de profissionais, parar de normalizar a dor e encontrar cada vez mais formas de realizar o diagnóstico precoce”, concluiu a ginecologista.

Na sequência, a Dra. Ana Lígia Dantas, também especialista em Endometriose, iniciou sua fala citando a importância do cumprimento da Lei Orgânica da Saúde do Brasil, em vigor desde 1990.

“Nós devemos construir uma Saúde mais justa e igualitária. A Endometriose é um problema de Saúde Pública, sim, e ela acomete uma a cada 10 mulheres em idade fértil, totalizando 7 milhões de brasileiras”, destacou.

A médica citou também o impacto da doença na qualidade de vida das pacientes.

“Os efeitos são devastadores e multifacetados. Elas sofrem com cólicas intensas, dor pélvica, dor na relação sexual, dor ao urinar e evacuar. Muitas são forçadas a faltar o trabalho, abandonar os estudos e se isolar socialmente. E a doença não afeta apenas sua saúde física, mas também a mental. Não é raro vermos algumas mulheres com problemas psiquiátricos (ansiedade, depressão, perda de autoestima), além da infertilidade, que destrói seus planos e sonhos”, frisou a ginecologista.

Resumindo seu discurso, a Dra. Ana Lígia reforçou que a doença representa “um ciclo vicioso de dor, sofrimento e recursos mal aplicados pelo Poder Público”.

“É urgente, portanto, que o Estado garanta as condições indispensáveis para o pleno exercício do direto a Saúde dessas mulheres. Precisamos principalmente de uma Linha de Cuidado estruturada e eficaz”, finalizou.

Letícia Silva, representante da Associação Endomulheres Potiguar, falou de maneira emocionada sobre os impactos da enfermidade na vida das pacientes com Endometriose.

“Eu sou uma mulher com Endometriose, e eu posso dizer que os impactos que ela causa, não só na minha vida, mas na de quem convive comigo, são imensos. A doença é sua e do seu dia a dia. Mas, graças a Deus, esses momentos que temos aqui para debater já vêm surtindo efeito. Eu já vejo uma mudança de consciência por parte da sociedade”, disse, esperançosa.

Falando a respeito da sua dor, Letícia a caracterizou como “uma dor que nos tira a vontade de viver”.

“Eu estou aqui sofrendo ainda com os efeitos inflamatórios. Meu último ciclo foi terrível. Eu fui desmaiada para o hospital. E olhe que eu já passei por duas cirurgias. E elas ajudam, mas não são resolutivas. Por isso é importante o acompanhamento pós-cirúrgico. Existe todo um tratamento de retaguarda que a gente precisa”, enfatizou a paciente.

Por fim, Letícia Silva abordou o tema da infertilidade, associada à maioria dos casos de Endometriose.

“A infertilidade é um problema, claro. Mas nós temos que pensar não só na questão reprodutiva, mas também na questão produtiva dessa mulher, na sua qualidade de vida. Quando falamos em saúde da mulher, nós estamos nos referindo de uma maneira geral e integral ao cuidado da saúde de todas as mulheres. Portanto, é preciso que o Poder Público e a sociedade se preocupem cada vez mais com a saúde geral da mulher”, finalizou.

Ao final da audiência, a deputada Cristiane Dantas agradeceu a presença de todos e garantiu que continuará acompanhando e cobrando ações do Poder Executivo em relação à temática.

ALRN



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