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Cumprir meta de 1°C do Acordo de Paris não evitará aumento do nível do mar


Atualmente, não estamos dando conta de cumprir a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido no Acordo de Paris. Mas, mesmo que conseguíssemos atingir essa meta, ou mesmo se permanecermos no nível atual de aquecimento, em torno de +1,2 °C, o nível do mar ainda deverá se elevar em vários metros nos próximos séculos.

A afirmativa, feita por uma equipe de pesquisa liderada pela Universidade de Durham, no Reino Unido, leva em consideração que essas duas temperaturas são inadequadas para proteger as grandes camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida. Ou seja, se não houver uma redução das temperaturas médias atuais, o derretimento dessas massas de gelo poderia ser catastrófico.

Segundo o estudo, publicado recentemente na revista Communications Earth & Environment, a única forma de evitar perdas significativas das camadas de gelo polares, que podem desencadear uma aceleração rápida e irreversível da elevação do nível dos oceanos, seria manter o aquecimento global na faixa de +1 °C, que é inferior ao que temos hoje.

Comparando aquecimentos globais do passado com o atual

O derretimento das camadas de gelo é um alerta constante para as comunidades científica e política. (Fonte: Richard Jones/Divulgação)

Em um comunicado, o primeiro autor do artigo Chris Stokes, professor de Durham, afirmou que, no início da década de 1990, as camadas de gelo eram mais estáveis. Naquela época, as temperaturas globais estavam cerca de 1 °C acima dos níveis pré-industriais, e o dióxido de carbono era 350 ppm, considerado mais seguro. Hoje, os níveis CO₂ ultrapassam 424 ppm e continuam subindo rapidamente, o que agrava o problema climático.

Para testar suas hipóteses, os autores compararam evidências de períodos quentes passados (parecidos ou um pouco mais quentes que os de hoje) com as medições atuais da perda de gelo. Eles também fizeram projeções para diferentes níveis de aquecimento ao longo dos próximos séculos. Esses registros históricos revelaram que os níveis do mar tendem a se elevar cada vez mais à medida que o aquecimento aumenta e persiste.

Coautora do estudo, a professora Andrea Dutton, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, explicou que, conforme evidências anteriores, o aquecimento global de 1,5 °C ou mais pode causar elevação do mar de vários metro. O coautor Jonathan Bamber, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, alerta que “a perda de massa das camadas de gelo tem sido um grande alerta para toda a comunidade científica e política”.

Consequências das previsões do estudo atual

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A recuperação das camadas de gelo pode levar milênios. (Fonte: Chris Stokes et al., Communications Earth & Environment, 2025/Divulgação) 

Especialista em simulações computacionais da Antártida e coautor do estudo, o professor Rob DeConto, da Universidade de Massachusetts Amherst, EUA, afirma em comunicado: “É importante enfatizar que essas mudanças aceleradas nas camadas de gelo e suas contribuições para o nível do mar devem ser consideradas permanentes em escalas de tempo multigeracionais”. Ou seja, podem levar até milênios para uma recuperação completa.

As consequências desse cenário são amplas e preocupantes. Segundo os autores, cerca de 230 milhões de pessoas vivem atualmente em áreas costeiras de baixa altitude, particularmente vulneráveis à elevação do nível do mar. Nessas cidades, uma elevação de apenas 20 centímetros até 2050 poderia resultar em danos anuais acima de US$ 1 trilhão.

No Brasil, cidades como Rio de Janeiro, Recife e Salvador enfrentam riscos significativos. A elevação dos oceanos pode levar à erosão costeira, inundações frequentes e salinização de aquíferos, afetando a infraestrutura urbana, agricultura e disponibilidade de água potável. Além disso, comunidades inteiras podem ser obrigadas a se deslocar, gerando desafios sociais e econômicos inimagináveis.

Assustou-se com o estudo? É natural que isso ocorra. Saber que o futuro das cidades costeiras — e de milhões de vidas — depende das decisões que tomamos hoje só aumenta a nossa responsabilidade. Compartilhe esta matéria e apoie políticas climáticas desafiadoras. 



Tecmundo

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