O público brasileiro sempre gostou de televisão e, como consequência disso, o mercado desse eletrônico é bastante aquecido no país. Inclusive por alta demanda e potencial de crescimento, são muitas as fabricantes que venderam ou ainda comercializam modelos por aqui.
A seguir, porém, o TecMundo presta uma homenagem a alguns nomes que deixaram uma marca na indústria, mas não existem mais ou abandonaram o segmento de TVs a nível nacional. Alguns deles são lembrados até hoje por existirem em outros setores, enquanto sobre outros você só aprende falando com quem viveu a época.
Não vamos citar empresas que voltaram às lojas depois de um tempo ausentes — é o caso de Philco e Philips, por exemplo, que foram muito importantes na era dos televisores de tubo e, após um hiato, retornaram em contextos diferentes ao mercado nacional.
1. Gradiente
A Gradiente é uma empresa paulista criada em outubro de 1964, destacando-se inicialmente no segmento de telefones e equipamentos de som. Sob a administração de Eugênio Staub, na década seguinte, ela expande para outros produtos em uma fábrica na ainda recente Zona Franca de Manaus.
O posicionamento dela em games, lançando tanto um MSX (o Expert) quanto um clone de Nintendinho (o Phantom System), tornaram ela apta até a virar parceira e representante da Nintendo no Brasil a partir de 1993, como uma empresa conjunta chamada Playtronic.
Já o principal período da marca em televisores foi na década de 1990, quando ela virou uma das primeiras do país a fabricar TVs de tela grande — o que, na época, era de até 29 polegadas. Ela ainda fez aquisições pontuais de outras companhias do setor que estavam em má fase, como a Telefunken e a Philco, o que aumentou a sua presença e estrutura no mercado.
Por problemas financeiros e administrativos, porém, a marca foi perdendo forças. Ela passou por um processo de recuperação judicial em 2007 e novamente declarou falência em 2018. Apesar de tentativas de retorno, hoje ela não comercializa mais eletrônicos, apenas aluga as antigas fábricas para reduzir as dívidas gradualmente e tem virado manchete apenas por causa da curiosa disputa contra a Apple pelo nome iPhone.
2. CCE
Outra empresa nacional de destaque, a Comércio de Componentes Eletrônicos (CCE) também se beneficiou da chamada reserva de mercado do mercado brasileiro, que reduzia importações de produtos de informática nas décadas de 1970 e 1980.
Fundada por Isaac Sverner em 1964, ela começou a fabricar e vender os próprios aparelhos sob preços mais baixos, atraindo uma enorme parcela da população. Esse oferecimento mais acessível de produtos, inclusive de TVs, construiu uma fama com dois lados: ela vendia bastante, só que isso mais tarde se converteu também em críticas por problemas constantes apresentados por alguns dispositivos.
Já sem espaço e com problemas financeiros, a CCE foi vendida para a chinesa Lenovo em 2012 — mais interessada em ter um braço nacional para o setor de computadores. A companhia, porém, revendeu os direitos da empresa novamente para os donos antigos, a empresa Digibras da família Sverner. Ela desativou as operações da CCE a partir de 2015, mesmo ano em que os televisores com esse nome saíram do mercado nacional.
3. Telefunken
Fundada em 1903, a alemã Telefunken é uma empresa de renome no país de origem e que, aos poucos, conquistou também fama em outras regiões. No Brasil, ela virou sinônimo de rádios, equipamentos de som e televisores por um breve e marcante período que começou por volta de 1910 com telégrafos.
A filial se estabeleceu na década de 1940, com preços atrativos e fabricação local. Os modelos iam desde aparelhos com um elogiado esquema de cores — o padrão PAL, que foi revolucionário no mercado — até O Pacificador, uma TV portátil e individual.
Em 1989, a divisão brasileira da Telefunken foi comprada pela Gradiente em um período em que a sede alemã também não ia bem. O conglomerado passou para as mãos da também alemã Daimler-Benz, que reduziu o uso do nome e saiu de vários mercados.
A Telefunken se reorganizou com o passar do tempo e retornou em 2009 sob nova administração. A empresa foi vendida pela última vez em 2023, quando o controle passou para o fundo de investimentos Gordon Brothers.
4. Mitsubishi
A lendária montadora de carros Mitsubishi já foi também um concorrente forte no setor de televisores, inclusive no Brasil. Essa trajetória foi relativamente curta, mas é marcante e envolve até uma acusação judicial.
A Mitsubishi lançou o seu primeiro televisor no Japão em 1953, mas no Brasil essa divisão só nasceu graças a um licenciamento de marca e tecnologia. A responsável por aqui foi a Evadin, que a partir de 1978 assumiu o nome Mitsubishi para equipamentos que incluíam TVs e usavam a mesma logo dos veículos com os três diamantes.
O marketing voltado para as Copas do Mundo, inclusive com garantia de quatro anos e presença de atletas e técnicos nos comerciais, deu certo. Os modelos eram considerados duráveis e venderam bem, mas a história parou de forma inesperada.
Em 1999, a empresa japonesa encerra o contrato de direitos, suporte e tecnologia para eletrônicos. Só que a Evadin continuou por mais oito anos lançando TVs sob esse nome, até ser processada (e posteriormente condenada) por uso indevido de marca. Por volta de 2007, já não havia mais TVs Mitsubishi nas lojas nacionais, mas a sede japonesa seguiu no setor em outros países até 2021.
5. Semp Toshiba
A S é um caso curioso de empresa que só existiu no Brasil. A explicação é simples: ela é uma companhia de operação apenas local que surgiu pela união de uma empresa nacional, a Semp, com a então gigante japonesa Toshiba.
A Toshiba surge em 1939 no Japão e vira referência em setores como computadores, rádios e memórias. Já a Semp, ou Sociedade Eletromercantil Paulista, nasce em São Paulo no ano de 1942. Pioneira, ela foi a primeira empresa a fabricar um rádio e uma televisão no país.
A união Semp Toshiba foi assinada em 1977, rapidamente se tornando uma gigante dos eletroeletrônicos. Além de modelos de tubo, ela se destacou já com dispositivos de alta definição e uma linha LCD. Na publicidade, o slogan “Os nossos japoneses são mais criativos que os outros” virou um clássico dos intervalos comerciais.
A união terminou em 2016, com a Toshiba encerrando a divisão global de televisores durante uma reestruturação gerada por uma crise ela que não superou até hoje. A Semp, por sua vez, assinou uma nova aliança com a TCL e segue no mercado de TVs. Mais tímida, a Toshiba também retornou sozinha, agora como marca licenciada da Multilaser.
6. Sharp
Batizada em referência a uma pioneira lapiseira lançada pela marca, a Sharp é outro caso curioso do setor nacional de TVs. Isso porque, apesar de ter a licença nacional de uma empresa tradicional do Japão, ela não tinha relações comerciais com a sede e lançava produtos originais por aqui.
A história começa em 1972, com o Grupo Machline sendo o nome por trás da fabricante de TVs, calculadoras, videocassetes e outros dispositivos. Foram três décadas de sucesso até 2002, quando o grupo declara falência e encerra a trajetória da representante brasileira.
A Sharp original do Japão recuperou os direitos nacionais da marca em 2011 e chegou a lançar impressoras e monitores na nova fase, mas sem o mesmo destaque. Em TVs, ela vendeu a divisão norte-americana para a Hisense, que passou a administrar a marca em alguns mercados que não incluem o nosso.
7. Sanyo
A Sanyo começou as operações no Japão em 1947 graças ao empresário Toshio Iue. Cunhado do fundador da Panasonic, Konosuke Matsushita, ele aluga fábricas dessa gigante local para começar o próprio empreendimento.
No Brasil, ela foi a primeira empresa japonesa da Zona Franca de Manaus, chegando ao polo industrial da região Norte do país em 1973 a partir de parceiras nacionais. O local foi usado não só para TVs, mas também para fazer telefones, aparelhos de som, fornos micro-ondas e videocassetes. Além disso, ela se firmou na produção de pilhas e baterias.
Em 2000, a Sanyo deixou de produzir televisores por aqui por decisão da sede, que estava insatisfeita com o desempenho da marca no Brasil em um mercado cada vez mais competitivo. Já a empresa original terminou do mesmo jeito que começou: ela foi incorporada pela Panasonic 2009 e deixou de existir oficialmente como marca.
8. Colorado
Talvez a mais desconhecida da lista para muita gente, a Colorado foi uma empresa clássica de televisores da década de 1970. Ela também nasceu em São Paulo e teve como destaque uma família de aparelhos chamada Colorado RQ (ou Reserva de Qualidade).
Com modelos preto e branco e depois coloridos, a Colorado apostou em uma estratégia parecida com a da Mitsubishi: a paixão pelo futebol. Ela contratou ninguém menos que Pelé como garoto propaganda, com o atleta no auge da popularidade global após o tricampeonato da Seleção Brasileira e logo após a aposentadoria.
Em 1979, porém, ela fechou as portas depois de não conseguir competir — inclusive com outras empresas dessa lista — que mantinham fábricas de maior porte na Zona Franca de Manaus.
Você se lembra da Embratel? Saiba neste artigo especial o que aconteceu com essa clássica empresa brasileira, que foi essencial para as telecomunicações do Brasil.
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